quarta-feira, 18 de abril de 2012

CARTA À IGREJA DE PÉRGAMO, 2.12-17


CARTA À IGREJA DE PÉRGAMO, 2.12-17

1. Destinatário (2.12a)

Esmirna ficava a cerca de 55 quilômetros de distância de Efeso. A rota adiante é descrita por Swete: “Depois de deixar Esmirna, a estrada de Efeso seguia a costa por cerca de 65 quilômetros e então subia em direção ao nordeste para o vale de Caicus, por mais 25 quilômetros, onde ficava a cidade de Pérgamo.

A localização física de Pérgamo era notória. Ramsay escreve: “Mais do que qual quer outro lugar na Asia Menor, essa cidade dá ao viajante a impressão de uma cidade majestosa, o lar da autoridade; o monte rochoso no qual se localiza é enorme e domina a imensa planície do Caicus de maneira orgulhosa e ousada”. Charles diz: “A cidade mais antiga foi construída num monte, a 350 metros de altura, que se tornou o lugar da acrópole e de muitas das principais construções da cidade posterior”.

No início do século terceiro a.C., foi fundado o reino de Pérgamo. Em 133 a.C., o rei Atalus III deixou seu reino para os romanos. Eles o transformaram na província da Asia. Ramsay diz: “Pérgamo era a capital oficial da província por dois séculos e meio: a tal ponto que a sua história como a base de autoridade suprema sobre um imenso país durou cerca de quatro séculos e não havia chegado ao fim quando as sete cartas foram escritas”.

2. Autor (2.12b)

Dessa vez Cristo é descrito como aquele que tem a espada aguda de dois fios
(cf. 1.16). A razão dessa referência à espada é vista claramente em 1.16. Ela deve ser o instrumento de julgamento contra os hereges na igreja de Pérgamo. Há também uma outra razão para essa identificação do autor. Ramsay observa: “Na avaliação romana a espada era o símbolo da ordem mais elevada de autoridade oficial com a qual o procônsul da Asia era investido. O ‘direito da espada’ [...] podia ser equivalente ao que chamamos hoje de poder sobre a vida e a morte”.

3. Aprovação (2.13)

Mais uma vez (cf. v. 9) tuas obras não se encontra no melhor texto grego, que traz: “Eu sei onde habitas”. Lá ficava o trono de Satanás. A palavra grega para trono é thronos.
Por que Pérgamo é chamado de lugar do trono de Satanás? A resposta é que era o centro de adoração ao imperador da Asia. Ramsay escreve: “O primeiro (e por um tempo considerável o único) templo provincial do culto imperial na Asia foi construído em Pérgamo em honra a Roma e Augusto (provavelmente 29 a.C.).

Um segundo templo foi construído ali em honra a Trajano e um terceiro em honra a Severo. Assim, Pérgamo, foi a primeira cidade a ter a honra de ser a guardiã do templo uma ou duas vezes na religião do Estado; e mesmo a terceira vez como guardiã do templo ocorreu alguns anos antes do que a vez de Efeso”. Assim, aqui Satanás representa “o poder e a autoridade oficial que está em oposição com a Igreja”.


R. H. Charles resume bem a situação. Ele diz: “Atrás da cidade no primeiro século d.C. ergueu-se um enorme monte cuniforme, com 350 metros de altura, coberto de templos e altares pagãos, que, em contraste com o “monte de Deus”, de acordo com Isaías 14.13 e Ezequiel 28.14, 16 e chamado de “o trono de Deus” em 1 Enoque 25.3, apareceu ao vidente como o trono de Satanás, uma vez que era o lugar de muitos cultos idólatras, mas acima de todo o culto imperial, que ameaçava com aniquilação a própria existência da Igreja. Recusar-se a participar desse culto constituía uma séria traição ao Estado”.

O segundo item na aprovação ou louvor da igreja em Pérgamo é: e reténs o meu nome e não negaste a minha fé. Quando as autoridades romanas exigiram que os cristãos proclamassem: “César é Senhor”, eles respondiam: “Jesus é Senhor” (cf. 1 Co 12.3).

Eles permaneceram firmes, ainda nos dias de Antipas, minha fiel testemunha (martys, “meu fiel mártir”, KJV). No segundo século, martys (genitivo, martyros) recebeu o significado técnico de “mártir”. Há uma discussão em torno do significado dessa palavra nesse texto. Alguns entendem que martys deveria ser traduzido por mártir, ao passo que outros entendem que ela deveria significar testemunha. De qualquer forma, essa testemunha foi morta. Apesar das lendas, nada se sabe ao certo a respeito de Antipas além do que é informado nessa passagem.

O qual foi morto entre vós não indica necessariamente que Antipas era um membro da igreja de Pérgamo. Ramsay diz que “muitos mártires foram levados a juízo e condenados ali que não eram de Pérgamo. Prisioneiros eram trazidos de todas as partes da província de Pérgamo para julgamento e condenação diante da autoridade que possuía o direito da espada [...] o poder da vida e da morte, a saber, o procônsul romano da Asia”.

4. Censura (2.14,15)

O Cabeça da Igreja tem algumas coisas contra a congregação de Pérgamo. A primeira é: tens lá os que seguem a doutrina de Balaão (14). Como em todo o Novo Testamento, doutrina (didache) deveria ser traduzida por “ensinamento”.

Balaão é descrito como aquele que ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel para que comessem dos sacrifícios da idolatria e se prostituíssem. Essa declaração preenche um pequeno hiato no relato do Antigo Testamento. Lá lemos que Balaão foi chamado por Balaque, rei de Moabe, para amaldiçoar os israelitas, a quem temia (Nm 22.1—24.25).

Quando Deus não permitiu que o profeta amaldiçoasse seu povo, evidentemente Balaão sugeriu uma maneira indireta de trazer a maldição divina sobre Israel. Isso é indicado em Números 2 1.16, em que Moisés disse às mulheres de Moabe: “Eis que estas foram as que, por conselho de Balaão, deram ocasião aos filhos de Israel de prevaricar contra o SENHOR, no negócio de Peor, pelo que houve aquela praga entre a congregaão do SENHOR”. O “negócio de Peor” era uma combinação de idolatria e imoralidade (Nm 25.1-9), como podemos ler em Apocalipse. O que o relato deixa mais claro aqui é o fato de Balaão ter aconselhado Balaque a fazer com que suas mulheres seduzissem os homens israelitas nesses dois pecados. O esquema funcionou bem demais. Balaão também é mencionado em 2 Pedro 2.15 e Judas 11.

A palavra grega para tropeços (scandalon; cf. escândalo) foi primeiramente usada para a isca de uma armadilha e, em seguida, para a própria armadilha. Isso se encaixa perfeitamente na figura aqui. Balaque preparou uma armadilha para os israelitas e eles foram apanhados nela. Swete comenta: “As mulheres de Moabe foram deliberadamente lançadas no caminho dos homens israelitas, que não suspeitavam de nada, na esperança de causar a ruína deles”. Lenski traduziu a expressão aqui: “lançar uma armadilha diante dos filhos de Israel”.

Pelo que tudo indica, havia alguns membros na igreja em Pérgamo que procuraram convencer os membros a aceitar os costumes pagãos para evitar perseguição. Eles defenderam a idéia de comer nos templos pagãos e participar na adoração aos ídolos, o que incluía prostituir-se com as “virgens” do templo. E possível que tenham dito que o que alguém faz com o corpo não afeta a sua alma. O fato de comer carne sacrificada aos ídolos já tinha se tornado um problema em Corinto, onde Paulo tratou disso (1 Co 8). Essa era uma questão vital no primeiro século.

Como em Efeso,4° havia em Pérgamo alguns nicolaítas (15). Em relação à sua doutrina (ensinamento) veja os comentários no versículo 6. Smith acredita que nicolaítas significa “aliciadores dos leigos” e que a descrição de Pérgamo prefigura o surgimento da hierarquia papal na igreja católica romana.

5. Exortação (2.16)

Os cristãos de Pérgamo, como também os de Efeso, são ordenados a arrepender-se (veja comentários acerca do versículo 5). O arrependimento era a única coisa que poderia evitar o julgamento severo — quando não, em breve virei a ti e contra eles batalharei com a espada da minha boca. Swete escreve: “O Cristo glorificado nesse livro é um Guerreiro, que batalha com a espada afiada da palavra” (cf. 1.16; 19.13-16).

A situação em Pérgamo era pior do que em Efeso. Jesus disse o seguinte à igreja de Efeso: “que aborreces as obras dos nicolaítas” (v. 6). Para Pérgamo Ele escreveu: “tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu aborreço”. A mudança de “aborreces” para “tens” e de “obras” para “doutrinas” provavelmente é significativa. Agora os nicolaítas estavam dentro da igreja e seus ensinamentos destrutivos estavam sendo aceitos por alguns. Se a igreja não se arrepender imediatamente (aoristo), Cristo virá (lit.: “Eu estou vindo”, presente profético) em breve para o julgamento. Não havia tempo para perder. Batalharei (futuro) literalmente significa: “promoverá guerra”. Esses nicolaítas eram os inimigos de Cristo e do cristianismo. Tanto Lenski43 quanto Charles44 entendem que os seguidores de Balaão e os nicolaítas constituíam o mesmo grupo.

6. Convite (2.17a)

Joseph Seiss apresenta um tratamento tríplice em relação ao texto: Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. 1) “Uma repreensão solene àqueles que se chamam de cristãos, mas raramente, ou nunca, abrem a sua Bíblia para estudá-la”; 2) “Tudo que diz respeito à salvação depende de profunda atenção à palavra divina e o uso diligente dos nossos privilégios, de ouvir, assinalar, aprender e digerir interiormente o que ela contém”; 3) “Todos têm a capacidade de prestar atenção e, assim, cabe a cada um usar essa capacidade”.

7. Recompensa (2.17b)

Alguns dos crentes professos de Pérgamo evidentemente estavam celebrando nos templos pagãos. Mas aos vencedores fiéis, Cristo promete que irão comer do maná escondido. A alusão parece referir-se ao vaso de ouro de maná na arca no antigo Tabernáculo (Ex 16.33; Hb 9.4).

Havia uma tradição entre os judeus de que a arca foi escondida por Jeremias na caverna do monte Sinai, onde não seria descoberta “até que Deus reunisse novamente as pessoas e mostrasse a sua misericórdia” (2 Macabeus 2: 7).

Charles acredita que o texto aqui se refere ao maná celestial descrito pelos rabis como sendo moído para os justos. Ele diz: “De acordo com 2 Baruque 29.8, o tesouro do maná deveria descer do céu durante o Reino Messiânico, e os bem-aventurados deveriam comer dele”. Ele também escreve: “O ‘maná escondido’ provavelmente significa os dons espirituais diretos que a Igreja triunfante receberá em uma medida excelente da comunhão íntima com Cristo”.48 Mas, será que esse maná escondido não significa também “comunhão íntima com Cristo” no presente, alimentando nossas almas do Pão da Vida?

Ao vencedor também se promete uma pedra branca. O que essa expressão significa? Charles alista cinco interpretações que têm sido sugeridas: “1) A pedra branca usada pelos jurados, significando absolvição... 2) Apsephos que permitia àquele que a recebia um acolhimento livre [...] [nas] assembléias reais [...] Portanto, ela era considerada um bilhete de admissão para a festa celestial. 3) As pedras preciosas que, de acordo com a tradição rabínica, caíam junto com o maná... 4) As pedras preciosas no peitoral do sumo sacerdote levando os nomes das Doze Tribos. 5) A pedra branca era considerada um símbolo da felicidade”.

Charles não acha qualquer urna dessas explicações satisfatória: “Ou apsephos não é branca ou não tem nenhuma inscrição nela”.’° Ele busca analisar o pano de fundo das superstições populares daquela época.

Incluído no problema está o significado do novo nome inscrito na pedra. Swete faz a sugestão útil de que a referência pode ser às “pedras gravadas que eram empregadas para propósitos mágicos e traziam nomes místicos”. Atos 19.19 indica que a magia era comum na cidade de Efeso. Swete acrescenta: “A mágica divina, que grava na vida e no caráter humano o Nome de Deus e de Cristo, é colocado em contraste com as imitações baratas que fascinavam a sociedade pagã”. Em 3.12, Jesus diz para o vencedor da igreja de Filadélfia: “E escreverei sobre ele o nome do meu Deus”.

Ramsay acha que a pedra significa o aspecto imperecível do nome. Ele escreve: “O nome que foi escrito na pedra branca se tornava imediatamente o nome do cristão vitorioso e o nome de Deus [...] Pérgamo e Filadélfia são as duas igrejas elogiadas. Delas se diz respectivamente: ‘reténs o meu nome’ e: ‘não negaste o meu nome’; e elas são recompensadas com o novo nome, que é ao mesmo tempo o nome de Deus e o seu próprio nome, uma possessão eterna, conhecida somente por aqueles que o possuíam [...] eles não serão meramente ‘cristãos’, o povo de Cristo; eles serão o povo da sua nova personalidade como Ele é revelado daqui por diante em glória, levando esse novo nome da sua gloriosa revelação”.
A palavra grega para novo não é neos, que significa “recente” em origem, mas kainos, que significa “fresco” em qualidade. “O ‘nome’ cristão, i.e., o caráter da vida interior que o evangelho inspira, possui a propriedade da eterna juventude, nunca perdendo seu poder e sua alegria”.


Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Comentário Bíblico Beacon

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